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Hórus, Filho de Ísis


O DEUS QUE recebia o nome de Harsiese era encarado específicamente como o filho da deusa Ísis. Sua designação na língua egípcia era Horu-sa-Aset, que significa exatamente Hórus, Filho de Ísis. Às vezes também era denominado Hórus, o Jovem, para distingui-lo de Hórus, o Antigo.

HARSIESE ERA O ADULTO no qual se transformara a criança que havia sido dada à luz por Ísis após a morte de Osíris. Como um herdeiro real que chega para reclamar a usurpação do trono, ele vingou a morte de seu pai derrotando o deus Seth e tornou-se o deus da ordem e da justiça, em contraposição ao seu oponente que representava o caos. Assim sendo, todo faraó era uma encarnação dessa divindade, o Hórus na terra, o soberano do Alto e do Baixo Egito. Essa divindade era representada na forma de um homem com cabeça de falcão, usando a coroa dupla do faraó, como vemos na figura acima. Ela mostra uma parede do segundo pilone do templo de Isis na Ilha de Philae, na qual aparecem as típicas imagens dos deuses Ísis e Hórus.

QUANDO ESSA DIVINDADE NASCEU, sua mãe invocou sobre ela a ajuda de todos os deuses, ensinou-lhe a magia e o respeito à memória do pai. Hórus cresceu e, diziam os egípcios, como o Sol nascente, seu olho direito era o Sol, o esquerdo a Luae ele próprio era um grande falcão que cortava os céus. Na passagem 148 do Texto dos Sarcófagos, ele mesmo se apresenta para uma plêiade de deuses:

Sou Hórus, o grande Falcão sobre os muros daquele cujo nome é oculto. Meu vôo atingiu o horizonte. Passei pelos deuses de Nut. Fui mais longe que os deuses de antanho. Mesmo o pássaro mais velho não poderia igualar o meu primeiro vôo. Removi meu lugar para além dos poderes de Seth, o adversário de meu pai Osíris. Nenhum outro deus poderia fazer o que fiz. Trouxe os caminhos da eternidade para o crepúsculo da manhã. Sou único em meu vôo. Minha fúria está voltada contra o inimigo de meu pai Osíris e colocá-lo-ei sob meus pés sob meu nome de "Manto Vermelho". Nesse ponto alguns dos deuses devem ter protestado e Hórus rebate: O hálito chamejante de vossas bocas não me causará mal. O que poderíeis dizer contra mim não me afetaria, pois sou o Hórus, cujo domínio se estende muito além de deuses ou homens, e também sou Hórus, filho de Ísis.

QUANDO O DEUS FICOU ADULTO, Osíris voltou à terra para fazer dele um soldado. Hórus reuniu os seguidores fiéis de seu pai e partiu em busca de Seth para vingar a morte de Osíris. A ferrenha batalha durou três dias e três noites; — resume o escritor italiano Federico Mella — Seth e os seus fiéis transformaram-se nos mais terríveis e estranhos animais para fugir á derrota. Hórus mutilou Seth, mas este se transformou num grande porco preto e devorou o olho esquerdo de Hórus. Assim a Lua parou de iluminar e a humanidade ficou atônita. No fim, Seth estava prestes a sucumbir, quando Ísis interveio suplicando ao filho que desse fim ao massacre, pois afinal Seth era seu irmão e marido de sua irmã predileta, Néftis. Num ímpeto de ódio, Hórus decepou a cabeça da mãe. Thoth curou-a logo, colocando em lugar da sua, uma cabeça de vaca. A batalha recomeçou e durou indefinidamente, sem vencedores e sem vencidos. Thoth, o qual curou Seth, intrometeu-se autoritariamente, mas impôs-lhe que restituísse o olho de Hórus. Então a Lua voltou a brilhar. Vieram então os deuses e levaram a questão ao julgamento de um Tribunal Divino. Foi um processo que durou 80 anos. Seth acusou Hórus de não ser filho de Osíris, tendo nascido depois da morte do citado pai. Hórus refutou da acusação, tachando Seth de má fé; enfim, o Divino Tribunal sentenciou que Hórus ficaria com o reino do Baixo Egito e Seth com o do Alto Egito. Segundo Maneton, historiador que escreveu no século III a.C., tudo isso teria ocorrido 13.500 anos antes do primeiro faraó da primeira dinastia egípcia.


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